terça-feira, 7 de março de 2017

Em 8 de março as mulheres irão às ruas para exigir direitos iguais


Por Mônica Nunes, no Conexão Planeta

Quando o momento exige, não há melhor forma para se fazer ouvir do que sair às ruas em grupo e protestar. E é isso que milhares de mulheres pelo mundo farão no Dia Internacional da Mulher, que – apesar de ter sido deturpada ao longo da história pelo comércio –, é uma data muito propícia para esta manifestação. A ideia é, inclusive, dar um novo tom a esse dia, resgatando sua intenção original.

Para isso, é imprescindível envolver não só as mulheres, mas homens, adolescentes, famílias, transgêneros e todos que reconheçam a legitimidade da mobilização e também queiram lutar por direitos.

Mas claro que muita gente não vai poder participar, ainda mais num momento de desemprego e de grande pressão nas grandes corporações. Por isso, o movimento indica OUTRAS MANEIRAS DE SE MANIFESTAR E ADERIR À CAUSA: parar uma hora no trabalho e otimizá-lo com conversas sobre as desigualdades, usar um detalhe ou uma peça de roupa lilás – cor símbolo da iniciativa – e boicotar as tarefas domésticas.

Quem puxou essa grande manifestação mundial – que está sendo chamada informalmente de greve internacional feminina já que envolverá mais de 30 países – foram dois dos maiores movimentos feministas do mundo: Ni Una Menos, que começou na Argentina e se espalhou pela América Latina, e a Marcha das Mulheres pelo Mundo.

A ideia é transformar 8 de março em um marco para novas relações com as mulheres nas sociedades, protestando contra as desigualdades de gênero, o machismo, o feminicídio, a exploração no trabalho e adesumanização feminina. Como? Convocando todas as mulheres a abandonarem seus postos de trabalhos (seja onde for!) e sair às ruas.

Entre os países que já confirmaram sua adesão, por intermédio de grupos feministas, estão Austrália, Bolívia,Brasil, Chile, Costa Rica, República Checa, Equador, Inglaterra, França, Alemanha, Guatemala, Honduras, Islândia, Irlanda do Norte, Irlanda, Israel, Itália, México, Nicarágua, Peru, Polônia, Rússia, El Salvador, Escócia, Coreia do Sul, Suécia, Togo, Turquia, Uruguai e EUA.




No Brasil

Por aqui, a violência contra a mulher e a reforma da Previdência proposta pelo governo Temer são a principais bandeiras desta mobilização. No caso da aposentadoria, a reivindicação se refere a equiparação de idade entre homens e mulheres. Com um detalhe: em geral, as mulheres trabalham cerca de cinco horas semanais em tarefas domésticas todos os dias, além da jornada remunerada.

Em São Paulo, estão sendo organizados dois grandes encontros – na Avenida Paulista, em frente ao MASP, e na Praça da Sé -, mas há outras mobilizações menores programadas pela cidade. Tudo para facilitar a participação. A página 8M – Paralisação Internacional das Mulheres em São Paulo, no Facebook, está sempre atualizada. Tem também o convite para o evento que mantém links relacionados na coluna da direita com os demais eventos do dia.




Como essa história começou

Essa greve começou a ser planejada depois de dois protestos realizados em 2016: um em 3 de outubro (que ficou conhecido como segunda negra), na Polônia, contra a lei do aborto, e outro, no mesmo mês, no dia 19 (vulgo quarta feira negra) na Argentina, que uniu milhares de mulheres contra os assassinatos ocorridos naquele ano – foram cerca de 200!

Mas a inspiração para este tipo de protesto – que intervém diretamente na produção – veio, na verdade, da Islândia. Em 24 de outubro de 1975, 90% das islandesas abandonaram o trabalho e foram às ruas para lutar por igualdade de direitos. A manifestação ficou conhecida como Dia Livre das Mulheres e conseguiu dar visibilidade para dois fatos importantes: a diferença vergonhosa de salários entre homens e mulheres e o trabalho doméstico não remunerado.



Carta e nova imagem

Na semana passada, a americana Angela Davis e ativistas das universidades assinaram carta publicada no jornal The Guardian – Mulheres dos Estados Unidos: estamos em greve. Junte-se a nós para que Trump veja o nosso poder – na qual convidam as americanas para aderir à greve geral “contra a violência masculina e em defesa dos direitos reprodutivos”. Sua intenção é mobilizar não só mulheres, mas também transgêneros, para construir uma nova agenda: “antirracista, anti-imperialista, anti-neoliberal e anti-heteronormativa”.

Entre elas, há um enorme sentimento de ojeriza ao marketing do falso “empoderamento” e à imagem do feminismo corporativo, que apenas incentivaram políticas conservadoras e as regras do livre mercado para as mulheres, mesmo em políticas que pareciam voltadas para defender seus direitos.

E isso ficou ainda mais claro com o barulho feito pela Marcha das Mulheres em 21 de janeiro, encorajando-as a buscar uma nova fase para a luta pela igualdade de gênero. As americanas estão chamando essa nova onda de mobilizações planetárias de Feminismo do 99% , enfatizando os direitos sociais. Não há dúvida de que a mudança para um novo e mais justo futuro só poderá ser feita por mulheres corajosas – e homens e outros gêneros idem. Mulheres de todo mundo vão abandonar seus postos de trabalho no próximo dia 8 de março exatamente por isso.

No Brasil, bem que poderíamos aproveitar a data para fazer um protesto ainda mais amplo em todos os sentidos, dada à urgência de combater nossa realidade política: um protesto com mulheres, homens, jovens, crianças, aposentados, trabalhadores, desempregados… pelas mulheres, claro! Mas também pela volta da democracia, dos direitos humanos, da justiça, da humanidade. E por eleições diretas. Aqui, todos os direitos estão sendo perdidos.





CONVOCAÇÃO PARA A GREVE INTERNACIONAL DE MULHERES NO BRASIL - 8 DE MARÇO, publicada no site do 8M Brasil

Neste 08 de março, a terra treme. As mulheres do mundo nos unimos e organizamos uma medida de força e um grito comum: Greve Internacional de Mulheres. 

Nós paramos. Fazemos greve, nos organizamos e nos encontramos entre nós. Colocamos em prática o mundo no qual queremos viver. 



Paramos para denunciar: 

Que o capital explora nossas economias informais, precárias e intermitentes. 

Que os Estados nacionais e o mercado nos exploram quando nos endividam. 

Que os Estados criminalizam nossos movimentos migratórios. 

Que recebemos menos que os homens e que a diferença salarial chega, em média, a 26% na América Latina. 

Que não é reconhecido que as tarefas domésticas e de cuidado são trabalhos não remunerados e adicionam três horas a nossas jornadas laborais. 

Que estas violências econômicas aumentam nossa vulnerabilidade diante da violência machista, cujo extremo mais brutal são os feminicídios. 

Paramos para reivindicar o direito ao aborto livre e para que não se obrigue nenhuma menina a enfrentar a maternidade. 

Paramos para visibilizar o fato de que, enquanto tarefas de cuidado não sejam uma responsabilidade de toda a sociedade, nos vemos obrigadas a reproduzir a exploração classista e colonial entre mulheres. Para ir ao trabalho, dependemos de outras mulheres. Para migrar, dependemos de outras mulheres. 

Paramos para valorizar o trabalho invisível que fazemos, que constrói redes de apoio e estratégias vitais em contextos difíceis e de crise. 


Paramos porque estão ausentes as vítimas de feminicídio, vozes apagadas violentamente ao ritmo assustador de treze (13) por dia só no Brasil. 

Estão ausentes lésbicas e travestis assassinadas por crimes de ódio. 

Estão ausentes as presas políticas, as perseguidas e as assassinadas em nosso território latino-americano para defender a terra e seus recursos. 

Estão ausentes as mulheres presas devido a delitos menores que criminalizam as formas de sobrevivência, enquanto os crimes corporativos e o tráfico de drogas permanecem impunes porque beneficiam o capital. 

Estão ausentes as mortas e as presas por abortos inseguros. 

Diante de lares que se tornam um verdadeiro inferno, nós nos organizamos para nos defendermos e cuidarmos umas das outras. 

Diante do crime machista e da pedagogia da crueldade, diante da tentativa dos meios de comunicação de nos vitimizar e de nos aterrorizar, fazemos do luto individual um consolo coletivo e da raiva, uma luta compartilhada. Contra a crueldade, mais feminismo. 
​ 


Nós usamos a estratégia da greve porque nossas demandas são urgentes. Fazemos da greve de mulheres uma medida ampla e atualizada, capaz de abrigar empregadas e desempregadas, a assalariadas e as que cobram subsídios, a autônomas e estudantes, porque todas somos trabalhadoras. Nós paramos. 

Nós nos organizamos contra o confinamento doméstico, contra a maternidade compulsória e contra a competição entre as mulheres, práticas impulsionadas pelo mercado e pelo modelo de família patriarcal. 

Nós nos organizamos em todas as parte: nas casas, nas ruas, no trabalho, nas escolas, nas feiras, nos bairros. A força do nosso movimento está nos laços que criamos entre nós. 

Nós nos organizamos para mudar tudo isso. 


Nós tecemos um novo internacionalismo. A partir das situações concretas em que estamos, nós interpretamos a conjuntura. 

Vemos que, diante do avanço neo-conservador na região e no mundo, o movimento das mulheres emerge como potência de alternativa. 

Que a nova "caça às bruxas", que agora persegue o que nomeia como "ideologia de gênero", tenta justamente combater e neutralizar nossa força e quebrar nossa vontade. 

Diante das múltiplas desapropriações, das expropriações e das guerras contemporâneas que têm a terra e os corpos das mulheres como territórios favoritos de conquista, nós nos incorporamos política e espiritualmente. 

​ 

Porque #VivasELivresNosQueremos, nos arriscamos em alianças incomuns. 

Porque nos apropriamos do tempo e construímos juntas a disponibilidade. Fazemos da nossa reunião um alívio e uma conversa entre aliadas; das assembleias, manifestações; das manifestações, uma festa; e da festa, um futuro em comum. 

Porque #EstamosJuntas, este 8 de março é o primeiro dia de nossa nova vida. 

Porque #ODesejoNosMove, 2017 é o momento da nossa revolução. 







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