Durante os dias 26 a 28 de maio de 2016 está sendo realizado na cidade de São Paulo o 5º Congresso Brasileiro de Saúde Mental, que vai abordar o contexto atual das lutas, projetos, conquistas e retrocessos da reforma psiquiátrica no Brasil, sob o tema "Juntos nas diferenças: sonhos, lutas, e mobilização social pela reforma psiquiátrica" (http://www.congresso2016.abrasme.org.br/site/capa).
Entre as mesas, cursos, debates e demais atividades previstas para o Congresso, o movimento da Educação Popular em Saúde marca sua presença no evento com a Tenda Paulo Freire, com uma programação que conta com dinâmica de acolhimento, espaço de cuidados, oficinas, lançamento de livros, e ainda rodas de conversas sobre práticas populares de saúde.
Mas o que é a Tenda Paulo Freire, e qual é a função e o objetivo da Educação Popular em Saúde nesse e em outros eventos de debate sobre a saúde? Instigados por esta provocação, os integrantes da Tenda que estarão recebendo e acolhendo as pessoas que passarão por ela durante o 5º Congresso Brasileiro de Saúde Mental, produziram coletivamente um texto/reflexão sobre o assunto, como segue:
A Tenda existe há mais ou menos 10 anos. Na sua criação foi uma luta contra hegemônica e permanece na luta, às vezes mais intensa, às vezes mais
dispersa, mas é um espaço irreverente e de resistência sempre, onde
cabem todos os atores e todos os saberes, além de todas as formas, cores, opiniões, irreverências, discordâncias e concordâncias. Estas diferenças é que permitem as transformações, os sonhos e as utopias.
Só a Educação Popular em Saúde tem esta reverência irreverente, criativa e diversa. Porque é multimisturada. Sim, somos o Brasil verdadeiro.
A Tenda Paulo Freire é um lugar de aconchego que
reúne diferentes atores sociais envolvidos em ações com o intuito de
compor espaços de troca de experiências. A Tenda é onde construímos ações coletivas de cuidados,
intensificando o quanto somos promotores de saúde. Onde temos a
oportunidade de exercer todas as formas de cuidados que fazemos em
nossos espaços, desmitificando o imaginário psicossocial de não sermos
promotores desta saúde que, íntegra, constrói aprendizados constantes,
muitas vezes desconstruindo o que é comum. Não segrega saberes, tendo a
certeza que somamos a cada encontro estes aprendizados, e assim
garantimos a continuidade da saúde integral coletiva. A Tenda é um espaço para exercitarmos o amor e a crítica que Paulo Freire nos ensinou!
E a Tenda no evento da saúde mental é um espaço de liberdade para se pensar a saúde? É um espaço de cuidados ....sim, muitos só tem pensado no seu papel de promoção da saúde a partir de antigas novas tecnologias de cuidado?
Mas o que se discute é a forma de cuidado ou é o significado mais amplo
e integral do cuidar, ou seja, lutar contra as formas de produção de
sofrimento social, físico, psíquico e espiritual? Às vezes a melhor resposta não é uma resposta que define, mas uma resposta que questiona, uma pergunta que provoca a reflexão.
A Educação Popular em
Saúde carece de repensar a cada instante, não existe o pronto, o
acabado, e graças ao universo é assim, não está pronta nem nunca estará. Vamos construindo, bordando e pintando os vazios. Tecendo e cozendo os caminhos da vida, elaborando sonhos e colorindo metáforas.
A Tenda a principio era contra hegemônica, mas agora é tratada por muitos como um adereço, o que poderia demonstrar uma certa crise da educação popular, que não discute o que é opressão, e nem o que é diálogo, nossa principal ferramenta. Daí a necessidade de nos fortalecermos na base aglutinando outros atores, pois a Tenda é isto - diversidade! - e está sempre em construção e reconstrução, uma nunca é igual a outra. E o diálogo é a forma de fazer esta construção.
Por isso semeamos aqui nossas palavras que, juntas a outras, fazem uma ação para, quem sabe, mudar o mundo com o amor (palavras) de todo mundo. Sempre lembrando que a Educação Popular em Saúde é como a água de um rio: vai procurando espaço para correr. Vamos seguindo juntos, pois juntos somos fortes o bastante pra mudar o mundo.
Palavras e afetos de Luzia Aparecida, Fernanda Nocam, Meire Quadros, Dinha Souza, Maria Cristina Martins e Ana Elidia Torres, costuradas por Débora Aligieri
Nenhum comentário:
Postar um comentário