segunda-feira, 24 de agosto de 2015

O pão nosso de cada dia - economia real e saúde

Saiu pela Fundação Perseu Abramo o livro de Ladislau Dowbor "O Pão Nosso de Cada Dia: processos produtivos no Brasil". É muito útil ver a economia pelo lado concreto, a chamada economia real, envolvendo indústria, infraestruturas, bancos, saúde e semelhantes. Nem tudo é finanças e ajustes: tem gente que trabalha. Pequeno prefácio de Ignacy Sachs, com quem o economista tem trabalhado muito o conceito de economia mista. Somos complexos demais na economia moderna, para apenas pensar em mercado ou Estado.

Como sempre ocorre com os livros de Ladislau Dowbor, este também está disponível online, e pode ser pedido diretamente na editora para quem gosta de papel. O link para acesso ao livro em pdf é: http://novo.fpabramo.org.br/sites/default/files/Pao20web.pdf

Fonte: site do Ladislau Dowbor

 
 
AS POLÍTICAS SOCIAIS

(...) chamamos aqui de políticas sociais, basicamente saúde, educação, cultura, turismo, lazer, esporte, habitação social e segurança.

Esses setores têm em comum o fato de constituírem investimentos nas pessoas. Se não tivermos pessoas com bom nível educacional, com saúde, vivendo de maneira decente – ou seja, com qualidade de vida – nenhuma das outras áreas de atividades irá funcionar. É a dimensão do chamado capital humano, mas muito além dos aspectos de formação de mão de obra.

(…)

Uma dimensão econômica importante das políticas sociais é que sempre foram qualificadas no Brasil como gasto e não como investimento.

(...)

Como os esforços de inclusão através de investimentos sociais se dão por meio de iniciativas públicas, esse gasto será sistematicamente atacado como populismo, inchaço da máquina do Estado e semelhantes. E os impostos sobre quem pode pagar, as elites, serão um vetor de reações histéricas. A imagem de um setor privado que produz e de um Estado gastador tornou-se não mais uma ideia, mas um preconceito no sentido de gerar reações ideológicas impenetráveis ao raciocínio e diariamente marteladas na mídia.

Na realidade, quando uma empresa contrata um técnico bem formado, tende a esquecer que nesse jovem de 25 anos há 25 anos de investimento social, da família e de diversos serviços públicos, para gerar uma pessoa organizada, com bons conhecimentos, com saúde e capacidade de trabalho e de iniciativa. (...) Na economia, como dizem, não há almoço de graça, tudo é ao mesmo tempo custo e resultado, insumo e produto. E, nas políticas sociais, o investimento do setor público é fundamental.


SAÚDE

Saúde, sem dúvida, custa. Mas é o produto que mais desejamos. Ou seja, é um produto, e talvez o melhor de todos. Não é uma atividade meio, é uma atividade fim.

No entanto, devemos distinguir o nível de saúde atingido em termos de resultados e o processo que permite atingi-los. Como em qualquer processo produtivo, a setor deve alcançar os melhores resultados com o mínimo de custos.

É o que se chama de produtividade da saúde. Nas últimas décadas, o mundo ganhou uma sobrevida impressionante. Antes, vivia-se tempo suficiente para criar os filhos. Hoje, as pessoas vivem 80, 90 anos. O progresso é impressionante.

O Atlas Brasil 2013, na avaliação geral dos 5.565 municípios do país, mostra que, entre 1991 e 2010, o tempo médio de expectativa de vida do brasileiro subiu nove anos, passando de 65 para 74 anos. São resultados espetaculares.

As pessoas tendem a atribuir esses resultados aos produtos que vemos na publicidade, belos hospitais e novos medicamentos. “Tomou Doril, a dor sumiu” e semelhantes.

Na realidade, o imenso avanço da humanidade em termos de esperança de vida se deve essencialmente à vacina, ao sabão, ao acesso à água tratada e ao saneamento básico. Mais recentemente no Brasil, a redução da fome com os diversos programas governamentais também operou milagres, o que explica em grande parte os nove anos de vida que ganhamos.

Portanto, ainda que grande parte de mídia se preocupe com o tratamento da doença, os grandes ganhos de produtividade e de dias saudáveis se devem à saúde preventiva, ou seja, ao conjunto das medidas – muitas delas fora do que consideramos normalmente setor de saúde – que evitam que surjam as doenças. Prevenir é incomparavelmente mais produtivo do que remediar.

A tensão gerada aqui, entre o conceito de serviços de saúde e o conceito de indústria da doença, é evidente. O sistema privado não tem interesse no sistema de prevenção por duas razões: primeiro, porque são ações universalizadas (como vacinas, água e saneamento etc.) que envolvem muita gente sem dinheiro para pagar e grandes esforços organizacionais que resultam da capilaridade das ações universais. A vacina tem de chegar a cada criança do país. Segundo, porque, ao se reduzirem os problemas de saúde, reduz-se o número de clientes. E o setor privado vive de clientes. Está interessado em poucos que possam pagar bem. Necessidade e capacidade de pagamento são duas coisas diferentes.

A concentração dos recursos da saúde privada no sistema curativo hospitalar e nas doenças degenerativas dos idosos é um resultado direto dessa deformação.

No caso brasileiro, naturalmente, a característica básica é a desigualdade, o que faz com que se tenham gerado dois universos de serviços de saúde: o público para a massa de pobres e o privado para os ricos e a classe média. Na medida em que o setor privado da saúde, com fins muito lucrativos, tenta expandir o universo de cobertura paga, os esforços de se generalizar o acesso a bons serviços públicos e gratuitos de saúde passam a ser atacados.

(...)

Uma sociedade saudável trabalha um conjunto de frentes que incluem desde cuidados da primeira infância até o ambiente escolar, as condições de habitação e urbanismo, a qualidade de vida no trabalho, o controle de agrotóxicos e semelhantes. A vida saudável resulta de um conjunto complexo de fatores, todos densamente ligados com a qualidade de vida em geral. Não é um produto padronizado que sai de uma máquina e resolve. Envolve, na realidade, uma forma de organização social.

Quando pensamos em saúde, tendemos a pensar na farmácia e no hospital, porque nos acostumamos a pensar nela apenas quando a perdemos. E não há dúvida de que há uma indústria da doença pronta para reforçar essa visão em cada publicidade de um plano privado de saúde, de remédios milagrosos e semelhantes.

(...)

No Brasil temos a convivência caótica do SUS com os gigantes financeiros que controlam os seguros e planos de saúde, passando por organizações sociais e sistemas cooperativos diversos. É importante a visão de conjunto: temos um grande acúmulo de experiência de gestão empresarial nos setores produtivos tradicionais, como de automóveis, e também na área de administração pública tradicional. Mas, no desafio de assegurar um bom nível de saúde, que resulta da convergência de numerosos atores, inclusive dos movimentos sociais, ainda estamos à procura de paradigmas adequados de gestão. Os rumos mais significativos, o que funciona efetivamente em diversos países que atingiram excelência, apontam para sistemas dominantemente preventivos, com acesso universal e gratuito, baseados em gestão pública mas fortemente descentralizados, com forte capacidade de participação e controle por organizações da sociedade civil.

Há uma dimensão ética aqui: a de que nenhum ser humano deve padecer e sofrer quando há formas simples de resolver o problema. A indiferença é vergonhosa e injustificável. Em termos sociais e políticos, não há dúvida de que uma das melhores formas de democratizar uma sociedade é assegurar que todos tenham acesso à saúde, tanto preventiva como curativa, independentemente do nível de renda. É uma forma essencial de redistribuição indireta de renda e de se generalizar o bem-estar.

A falta de acesso a serviços básicos de qualidade, por outro lado, gera um sistema quase de chantagem: as famílias se sangram para pagar um plano privado de saúde, gastando muito mais do que o custo dos serviços prestados, simplesmente por insegurança, pela possível tragédia de um acidente ou doença grave. Acabamos contratando um plano, e pagando caro para ter um certo sentimento de tranquilidade, e não pelos serviços de saúde efetivamente prestados. Quanto mais inseguros, mais pagamos. A indústria da doença precisa ser fortemente controlada, e um dos melhores caminhos é a sistemática elevação da qualidade e acessibilidade dos serviços públicos universais de saúde.

Fonte: O pão nosso de cada dia, Ladislau Dowbor, págs. 99/106

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Direito à participação na saúde na Revista Vida Saudável e Diabetes

Quando eu era pequena, gostava de ler uma revista infantil que trazia contos em forma de poesia. Acordava aos domingos e corria até a banca de jornais perto da minha casa para comprar a revista, e a devorava em poucas horas.

Revivi essa sensação de entusiasmo ao conhecer a Revista Vida Saudável e Diabetes, que tem um conteúdo totalmente direcionado para o universo das pessoas com diabetes. A principal proposta da publicação é abordar o tema de forma clara e direta, sempre trazendo assuntos relacionados à disfunção e ao dia a dia dos portadores. Os leitores encontram em cada edição as principais novidades em pesquisas e tratamentos, além de matérias especiais que enfocam qualidade de vida, comportamento, bem-estar, dicas, entrevistas com profissionais da área e diversas sugestões de receitas para serem preparadas em casa.

Além de difundir informações de qualidade sobre diabetes - o que costuma ser um problema em publicações jornalísticas, que não raro contribuem para a desinformação e preconceito contra portadores da doença - a revista debate o sistema público de saúde de forma propositiva, sem tender para a oferta do sistema privado como solução para os problemas do SUS. E também traz histórias de pessoas que buscam o direito à saúde, servindo como ferramenta de luta pela cidadania.

Na edição número 32, somando-se à esclarecedora matéria sobre os cuidados e tratamentos para pessoas com diabetes acometidas por dengue e à entrevista com a coordenadora do departamento de Saúde Pública da Sociedade Brasileira de Diabetes sobre a eficácia dos análogos de insulina, entre outras, na seção ponto de vista a revista debate a participação na saúde como direito de todos.

Em um trecho do texto que escrevi, aceito para publicação pela editora Letícia Martins, a Rede HumanizaSUS é citada como exemplo de espaço que contribui para a efetivação da diretriz constitucional de participação da comunidade na saúde (artigo 198, III, CF).





Em tempos de "grande mídia" (patrocinada por planos de saúde) que reporta apenas as piores mazelas do sistema público, encontrar uma revista que se propõe a mostrar o "SUS que dá certo" e ainda contribuir com a difusão do direito à participação na saúde é realmente animador! Uma busca bastante difícil - como retornar à infância para ler poesia em revistas -
para leitores que valorizam o sistema público de saúde, mas possível em função do compromisso democrático dos integrantes da equipe editorial e jornalística da revista em tornar o país melhor e mais justo, para todas as pessoas.


quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Encontro Paulista do VER-SUS: produzindo reflexões e ações no campo da formação em saúde

As vivências e estágios na realidade do SUS (VER-SUS) de São Paulo, desde a sua primeira edição em julho de 2014 na cidade de São Bernardo do Campo, e nos municípios de Mauá, Guarulhos, Santos e Brasilândia/FÓ no verão de 2015, vem se solidificando no campo da integração ensino-serviço com a gestão municipal de diversas secretarias de saúde, o que permite estimular uma aproximação dos estudantes de graduação com os territórios e o fortalecimento dos diálogos entre gestão e serviços de saúde. Possibilita, também, encontros fundamentais dos profissionais de saúde com as pessoas que utilizam o SUS, sempre próximo do afeto e do cuidado com o outro.
 
 Este encontro se motiva a partir da necessidade do VER-SUS/São Paulo (re)pensar suas práticas, suas vivências, seus objetivos e compromissos com o Projeto VER-SUS/Brasil. Com o mote “Produzindo ações e reflexões no campo da formação em saúde”, a comissão organizadora do VER-SUS/São Paulo propõe o Encontro Paulista do VER-SUS (EP-VER-SUS) com o intuito de fomentar o debate do SUS e da saúde.

O referido evento conta com a participação de diversos movimentos e coletivos como: Faculdade de Saúde Pública da USP, instituição importante sobre o debate da saúde e SUS; Associação Paulista de Saúde Pública (APSP), entidade histórica do movimento da reforma sanitária em São Paulo e anterior a efetivação do SUS; VER-SUS/São Paulo, coletivo de estudantes e mobilizadores dos estágios e vivências em São Paulo e os Centros Acadêmicos de Farmácia e Obstetrícia da USP, estes, protagonistas estudantis em articular o movimento estudantil de seus cursos com a pauta da saúde.

Ainda, é um evento multi-irradiado que será realizado na Faculdade de Saúde Pública (FSP) na região de Pinheiros/SP conhecida como “Quadrilátero da Saúde” com os cursos de saúde pública, nutrição, enfermagem, medicina, fonoaudiologia, fisioterapia, terapia ocupacional e direito, Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) na região do Butantâ/Cidade Universitária/USP com os demais cursos da área da saúde, biológicas, exatas, ciências humanas, ciências sociais e Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) na região da Zona Leste de São Paulo com os cursos de obstetrícia, gerontologia, educação física e saúde, gestão de políticas públicas e gestão ambiental.

Não há restrição de público!

Inscrições (gratuitas) abertas no dia 13/08/2015, através deste link: http://www.otics.org/estacoes-de-observacao/versus/inscricoes-seminarios/seminario-sao-paulo
 
Mais informações sobre inscrição, programação e novidades serão postadas da página do VER-SUS São Paulo (www.facebook.com/versussampa) e na página do Encontro (versussaopaulo.wix.com/epversus) e no evento do facebook (https://www.facebook.com/events/517704385049286/)

Seguimos como Bondia (2001) nos diz para cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço.

Referências

BONDIA, JL. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Palestra proferida no 13º COLE-Congresso de Leitura do Brasil, realizado na Unicamp, Campinas/SP, no período de 17 a 20 de julho de 2001.
 
 
 

terça-feira, 18 de agosto de 2015

MPDFT promove encontro para discutir controle e fiscalização das políticas em saúde

Durante o evento, entre os dias 26 e 28 de agosto, será lançado o Portal Direito e Saúde

O direito à saúde é indissociável do direito à vida, que tem como princípio fundamental a dignidade da pessoa humana. Mas, para garantir sua efetividade, é necessário o controle e a fiscalização. Para discutir esse tema, profissionais do direito e da saúde, acadêmicos, estudantes e comunidade estão convidados para participar do 1º Encontro Temático da 4ª Câmara Cível do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT): Controle e Fiscalização das Políticas Públicas em Saúde.

O evento ocorrerá entre os dias 26 e 28 de agosto na sede do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. Serão abordados temas como perspectiva da saúde no mundo, saúde suplementar, medicina baseada em evidências, judicialização e hospitais psiquiátricos. Das 400 vagas existentes, 270 serão destinadas ao público externo, que pode se inscrever pelo endereço: www.mpdft.mp.br/inscricoes até o dia 25/8. Os participantes com pelo menos 75% de presença receberão certificado ao final do evento. Ao total, serão 14h de atividades. Confira aqui a programação.

Na abertura do evento, dia 26/8, às 17h, será lançado o Portal Direito e Saúde, disponibilizado no site do MPDFT. Estarão acessíveis à sociedade informações importantes como estudos científicos, trabalhos acadêmicos, artigos, planos de trabalho de políticas públicas, legislação, jurisprudência, doutrina, literatura em saúde e ações institucionais com conteúdo variável como saúde pública, saúde e ambiente, saúde da criança e do adolescente, saúde da mulher e dos idosos.

Criado em agosto de 2014, inicialmente o Portal só estava disponível para o público interno do MPDFT. “Agora, toda a sociedade terá acesso à ferramenta, o que viabilizará melhor efetivação no controle e fiscalização das políticas públicas em saúde sob a perspectiva de um Estado democrático”, disse a procuradora de Justiça Tania Maria Nava Marchewka, coordenadora da 4ª Câmara.

Serviço

Controle e Fiscalização das Políticas Públicas de Saúde
Data: 26, 27 e 28 de agosto
Local: Auditório do MPDFT (Eixo Monumental, Praça do Buriti, Lote 2)
Inscrições: www.mpdft.mp.br/inscricoes
Confira aqui a programação completa

Divisão de Jornalismo / Secretaria de Comunicação
(61) 3343-9604 / 3343-9601 / 3343-9198 / 9303-6173
jornalismo@mpdft.mp.br
facebook.com/mpdftoficial
twitter.com/mpdft

Fonte: Ministério Público do Distrito Federal e Territórios



domingo, 16 de agosto de 2015

SUS e Agenda Brasil - mais uma ofensiva do Congresso brasileiro contra a saúde pública universal, integral e igualitária

Ministros da Saúde são contra a cobrança no SUS

Cobrar à população por procedimentos realizados no SUS, uma das medidas da Agenda Brasil apresentada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, na terça-feira (11/08), tem a reprovação do ministro da Saúde, Arthur Chioro, e de outros que já estiveram no mesmo cargo, como Alexandre Padilha e José Gomes Temporão. Nas últimas 24 horas eles demonstraram preocupação com essa nova alternativa de financiamento do SUS, totalmente contrária aos princípios do sistema, que propõe tratamento universal e colocou fim na separação que existia antes, entre trabalhadores de carteira assinada e os considerados indigentes.

“Qualquer proposta que pense o financiamento do SUS, cobrando procedimentos realizados vai provocar uma profunda distorção” afirmou Padilha no debate Direito à saúde X Ofensiva conservadora, que lançou o portal Saúde Popular, em São Paulo (SP). Chioro, em outra ocasião, considerou a proposta de cobrança totalmente inviável, pelos mesmos motivos, e Temporão disse ter tomado um susto, comparando a iniciativa a práticas da ditadura. A proposta é cobrar de acordo com a faixa de renda do cidadão. “A ofensiva conservadora não é contra o PT. É contra o marco civilizatório e democrático construído nos anos 80″, afirmou Thiago Henrique, da Rede de Médicos e Médicas Populares, responsável pelo novo portal de notícias sobre saúde pública. https://saude-popular.org.

Fonte: Jornal do Commercio


 
Carta à Presidente Dilma Rousseff e à sociedade – Nota Pública Sobre o SUS e a “Agenda Brasil”

O documento “Agenda Brasil”, apresentado no dia 10 de agosto de 2015 por lideranças do Senado ao Governo Federal, traz a proposta de extinção do SUS universal aprovado na Constituição de 1988.

A cobrança de cidadãos assistidos pela rede pública de saúde, de acordo com a faixa de renda, ampliaria as diferenças de qualidade dos serviços e resultaria na completa segmentação do já desigual sistema de saúde brasileiro.

Desmantelar o SUS, em nome da superação das crises política e econômica, poderá conduzir a outra crise sem precedentes: a da saúde. O SUS, ainda que incompleto, com suas limitações e contradições, gerou ações de saúde de amplo alcance, com resultados inequívocos de eficiência econômica e relevância social e sanitária.

Cobrar de alguns pelo atendimento em saúde, pela vacinação, pelo tratamento da aids, pelo transplante, pela urgência e emergência, dentre tantos exemplos, é aniquilar políticas que só deram certo porque são universais.

Erguido sobre valores de solidariedade e igualdade, o SUS colocou em prática o Artigo 196 da Constituição Federal (“a saúde é direito de todos e dever do Estado”) valendo-se da progressividade do financiamento em função da renda. Isso quer dizer que cada cidadão financia o SUS por meio de impostos, de acordo com sua capacidade contributiva, mas todos têm o direito de acessar igualmente o sistema conforme suas necessidades de saúde, nunca em função de sua capacidade de pagar.

A cobrança seletiva por atendimento desfigura o SUS ao institucionalizar portas de entrada diferenciadas para ricos e pobres. A rede pública passaria a funcionar com a lógica privada, enquanto planos e seguros de saúde ficariam ainda mais à vontade para despejar no SUS a demanda que já se omitem em atender: os procedimentos de alto custo, os idosos e os doentes crônicos.

É uma tentativa que vem se somar a outros atentados recentes contra o SUS: a constitucionalização do sub-financiamento público, o incentivo à rede hospitalar privada com abertura ao capital estrangeiro, a ampliação da desvinculação das receitas orçamentárias da União, a desregulação do mercado de planos de saúde e o aumento de subsídios públicos ao setor privado.

Nenhuma das medidas de desmonte deliberado do sistema público foi apresentada durante a campanha eleitoral, quando era uníssona a promessa de fortalecer o SUS em resposta às preocupações da população com saúde.

Poucos meses após a posse da presidente eleita, assiste-se ao uso do SUS como peça de barganha e loteamento político.

Mais uma vez, evita-se o debate sobre o financiamento adequado da saúde ao considerar co-pagamentos como fontes estáveis de receitas, anomalia suprimida até mesmo nos Estados Unidos, com o Obamacare.

As instituições e a legislação conquistadas não podem servir apenas para estruturar o sistema de saúde, mas também para proteger o direito à saúde de qualquer ameaça.

Que não fiquem em silêncio os gestores do SUS, o Ministro e Secretários de Saúde, o Ministério Público e o Poder Judiciário, os Conselhos de Saúde, os profissionais de saúde, os trabalhadores, usuários e movimentos sociais.

Somente uma grande frente que expresse o engajamento cidadão será capaz de defender o SUS e afirmar que este bem comum de todos os brasileiros e brasileiras não pode ser reduzido e amputado.

Que cessem imediatamente as negociações sobre a possibilidade de cobrança no SUS, pois a saúde é um bem jurídico garantido pela Constituição e um direito social duramente assegurado.

O SUS, o direito à saúde e a proteção social não estão à venda.

Tirem as mãos do SUS!

Assinam esta carta:

Associação Brasileira de Saúde Coletiva – Abrasco
Associação Brasileira de Economia da Saúde – Abres
Associação Nacional do Ministério Público de Defesa da Saúde – AMPASA
Associação Paulista de Saúde Pública – APSP
Centro Brasileiro de Estudos da Saúde – CEBES
Instituto de Direito Sanitário Aplicado – Idisa
Rede Unida
Sociedade Brasileira de Bioética – SBB

Fonte: Centro Brasileiro de Estudos de Saúde - CEBES

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Educação Popular e Humanizasus: o reencantamento do cotidiano em defesa da vida

As políticas públicas se conectam no cotidiano da vida, nos pontos de encontro, nos espaços geográficos. E as pessoas, vivenciando estas políticas, são transformadas por elas, e ao mesmo tempo contribuem para a transformação das políticas públicas, empoderadas com a sua cidadania para tornar a sociedade mais justa, através da participação social. Deste modo desejamos trazer para o debate as vivências da Política Nacional de Humanização e da Educação Popular em Saúde para além de seus princípios e diretrizes, no calor da vida pulsante.

Por este caminho, encontramos movimentos sociais onde estas políticas se realizam e, ao mesmo tempo, se transformam, num fazer dialógico e vivo.

Rodas se conectam... as conversas, as cirandas, os mosaicos...

Aguardaremos suas contribuições nesta roda que é também virtual, mas nem por isto menos inclusiva e dialógica.

Que conexões construiremos, quais potencialidades se mostram possíveis?

Carlos Rodrigues Brandão, no livro “O que é método Paulo Freire” nos aponta alguns caminhos para estas respostas:

“A consciência do oprimido, que aprende com o trabalho pedagógico da educação do opressor a pensar como ele e a legitimar a ordem de Mundo que ele impõe, aprende a pensar por si própria. Aprende a desvelar a mentira do saber imposto, quando aprende a fazer a prática política cujo horizonte é a sua liberdade. É a construção progressiva, mas irreversível, de uma sociedade conquistada pelo povo, e, então reconduzida ao diálogo.” (Carlos Rodrigues Brandão, no livro “O que é método Paulo Freire”, editora Brasiliense, 1985, pág. 107)

Então será isto, o diálogo, este dispositivo de potência?

Vamos seguir conversando? Você está mais que convidado! A RedeHumanizasus lhe espera para este encontro cheio de potências!

Coletivo de Editores da Rede Humanizasus

Fonte: Rede HumanizaSUS

Para participar do debate, que será transmitido online, basta acessar a sala de eventos da Rede HumanizaSUS através do link http://www.redehumanizasus.net/13180-sala-de-eventos-rhs
 
 


Assista também aos webinarios anteriores da Rede HumanizaSUS:

Webinário 1: Chico Whitaker e Convidados - 24/05/2014
 




Webinário 2: O saber em Saúde e o cuidado de si - 15/08/2014
 
 

sábado, 8 de agosto de 2015

Educadiabetes - palestra sobre Direito a Medicamentos ficará disponível no domingo 09/08/15

O evento Educadiabetes (leia o post sobre o assunto aqui) começou na terça-feira dia 04/08/15 e vai até a segunda dia 10/08/15. Na programação original, a palestra sobre Direito a Medicamentos para pessoas com diabetes ocorreria no próximo domingo dia 09, e a palestra sobre Direitos Trabalhistas e Previdenciários seria na quinta-feira, dia 06/08.




Mas em função de uma troca de última hora, a palestra sobre Direito a Medicamentos aconteceu na quinta-feira passada. Para não prejudicar as pessoas que já haviam se programado para assistir a essa palestra no dia 09/08, neste domingo ela estará disponível o dia inteiro para ser assistida a qualquer hora. Assim, quem perdeu a transmissão na quinta-feira pode assistí-la no domingo agora, dia 09/08. 
Basta estar cadastrado no evento, e acessar o link: http://meuwebinar.com.br/3516-ed-8-direito-dos-diabticos-a-medicamentos-e-tratamentos

A palestra sobre Direitos Trabalhistas e Previdenciários para pessoas com diabetes será transmitida na mesma data, às 20h00. Não percam!

Para participar, acessem o site: Educadiabetes


segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Apresentação da Rede de Médicos Populares em São Paulo - 08/08/15

A Rede Nacional de Médicos e Médicas Populares, que surge como um espaço articulador da unidade do campo progressista na categoria médica, será apresentada em São Paulo no próximo sábado (08/08/15). A atividade ocorrerá às 09h30 no Sindicato dos Advogados do Estado de SP.

“Precisamos estar atentos(as) e cada vez mais organizados(as) na defesa do Sistema Único de Saúde (SUS) público e gratuito e por um projeto de saúde comprometido com as demandas da população brasileira)”, assinala a convocatória da Secretaria Operativa da Rede.

No início do mês de julho, a proposta de uma articulação popular de médicos foi apresentada no Congresso Brasileiro de Medicina de Família e Comunidade. A atividade contou com cerca de 100 pessoas.

“A Rede de Médicas e Médicos Populares nasce da necessidade de se fazer um contraponto à ofensiva conservadora também no setor saúde e tem como missão ajudar a tecer um campo de unidade em defesa do SUS [Sistema Único de Saúde] e do direito à saúde do povo brasileiro”, declarou, na ocasião, o médico de família Stephan Sperling.

A Rede é composta por trabalhadoras e trabalhadores da Saúde que valorizam as lutas populares históricas em nossa realidade brasileira e latino-americana e que defendem o SUS como contribuição essencial para uma sociedade mais justa, democrática, emancipatória e popular.

Abaixo, o convite da Secretaria Operativa da Rede Nacional de Médicos e Médicas Populares para o lançamento da plataforma em São Paulo:

CONVITE

Prezados/as companheiros/as,

Vivemos uma conjuntura política de ofensiva das forças da direita organizada junto aos setores mais conservadores e retrógrados de nosso país. Estamos assistindo cotidianamente as tentativas de retrocessos sociais e políticos por parte desses setores dentro do Congresso Nacional, principalmente na Câmara dos Deputados.

Neste sentido precisamos estar atentos/as e cada vez mais organizados/as na defesa do Sistema Único de Saúde público e gratuito e por um projeto de saúde comprometido com as demandas da população brasileira.

Diante deste cenário, a organização e integração dos médicos e das médicas que se colocam no campo mais progressista em todo Brasil é essencial para construímos força social na luta por uma saúde popular e para impedir retrocessos na batalha do direito à saúde!

Com esse sentimento, gostaríamos de convidá-los/as a participar da Plenária de apresentação da Rede de Médicas e Médicos Populares, dia 08/08/2015 às 09h30, no Sindicato dos Advogados do Estado de SP. Rua da Abolição, 167, São Paulo - SP.

Para mais informações entre em contato através do email secretariamedicospopulares@gmail.com

Contamos com sua presença!

Saudações Fraternas

Secretaria Operativa Nacional

Rede de Médicos e Médicas Populares


Fonte - Saúde Popular nas redes:

site: https://saude-popular.org/

Facebook: https://www.facebook.com/saudepopular.org?fref=ts

Twitter: https://twitter.com/saude_popular

Evento do lançamento em SP no Facebook: https://www.facebook.com/events/1000624609957802/